quarta-feira, 22 de outubro de 2014

São Paulo. Em favor de uma cidade cinza que matará todos nós


São Paulo me frustra. São Paulo me cospe. São Paulo é sempre cinza, dificilmente você irá ver o céu todo azul estando em São Paulo. Aqui a gente chora. A gente ama. A gente nasce, cresce, adoece e morre. São Paulo me traz boas lembranças, mas também me traz péssimas lembranças sobre um passado que sinto obrigação em esquecer. Avenidas. Ruas. Bairros. Casas. Vielas. Guetos. Favelas. Existe a parte rica e a parte pobre. Existe sim amor em São Paulo, mas também existe o ódio, o rancor, a doença, o choro, a lágrima, a dor. São Paulo já me acolheu, mas também me jogou fora. Eu sempre amei São Paulo, mas também odeio essa cidade com todas as forças que existe no mundo. É triste morar em São Paulo, mas também é gratificante. Cidade cinza. Me descobri nela. Encontrei-me nela quando mais estava perdido e quando mais precisei de amparo. Ela me acolheu em teus braços, mas quando eu não precisava mais, ela me jogou fora e aqui estou. Se não existisse São Paulo, eu não teria muito que escrever. Não teria muito que viver. Não teria muito que contar. Já me embebedei e cheguei a experimentar drogas fracas na Rua Augusta. Já quase apanhei de punk's nos bares baixos e sujos do Anhangabau. Já fiquei pobre gastando dinheiro na Galeria do Rock. Já fiquei impressionado várias e várias vezes com os prédios e edifícios e beleza da Avenida Paulista. Já beijei e transei em São Paulo. Quase morri em São Paulo, nasci em São Paulo e renasci em São Paulo. Trabalhei na cidade cinza, em prédios lindos e feios. Com pessoas humildes e chatas. Conheço todos os metrôs e estações, mas não sei andar de ônibus. Não me peça informações em São Paulo sobre ônibus, obrigado. São Paulo me abraça, mas também me bate. Nossa. Como São Paulo me bate, me bate muito, mas muito mesmo. Já apanhei inúmeras vezes dessa cidade. Já perdi as contas de quantas vezes xinguei a cidade cinza de desgraçada, de odiosa, de pavorosa, de lixo. Oh São Paulo, você me abraçou, mas também me ignorou. Lembre-se que você é culpada pelo meu caráter e me deu também respeito. Como eu amo todos os Starbucks que contém nessa cidade. Já passei horas e horas dentro de uma dessas cafeterias, enquanto a chuva batia na janela do local, pensando sobre a vida. Vendo todas aquelas pessoas, homens e mulheres. Nossa. As mulheres de São Paulo são lindas. Com seus salto altos, sempre bem vestidas. De social ou saias curtas. Avenida Paulista é isso. Andar por essa avenida é pedir para ver e apreciar belas pernas e peitos e bundas andando de lá para cá. Como eu amo São Paulo. Como eu amo a Avenida Paulista. Mas eu também te odeio São Paulo. Eu também te odeio Avenida Paulista. Com toda aquela multidão de pessoas andando para lá e para cá. Fazendo eu me sentir perdido e diminuído em meio a um milhão de pessoas que estão apenas correndo atrás de seu afazeres e trabalhos e tarefas e estudos. Eu já amei São Paulo e odiei São Paulo. Hoje apenas não me interesso tanto assim pelo meu amor e pelo meu ódio. São Paulo já me engrandeceu bastante e sou grato por isso, mas já me diminuiu bastante. Eu gostaria de estar fazendo um brinde por São paulo lá na Rua Augusta, enquanto vejo alguma prostituta me perguntando se eu quero passar uma hora com ela. Seria genioso e maravilhoso. Como seria.

Os metrôs são sempre os mesmos. Pessoas infelizes, tristes, cabisbaixas. Os olhares vazios em seus bancos sempre cheios. O coração das pessoas pulsam sempre iguais dentro do metrô. O estresse. A raiva. O cansaço. O pensamento de que deixamos o nosso lar para enfrentarmos essa multidão dentro de um lugar que necessitamos para nos levar aonde precisamos. É horroroso andar de metrô, mais horroroso ainda andar de trem. Como eu odeio esses momentos, mas também amo porque são pequenos e longos momentos do dia em que posso ficar sozinho, apenas observando a cidade cinza e todas essas pessoas infelizes, assim como eu, que um dia morrerão, provavelmente, em São Paulo. Eu já adoeci por causa de São Paulo, mas também fui curado por causa de São Paulo. Teatros. Igrejas. Políticas. Cinemas. Mendigos. Hippies. Correios. Maconha. Álcool. Restaurantes. Bolsa de Valores. Centro. Ladrões. Táxis. Bibliotecas. Bares. Prostíbulos. Japoneses. Brancos. Negros. Todas as raças, sexualidades, modas, cores, padrões. Tudo existe em São Paulo. Tudo mesmo. A paixão e o desprezo. O rancor e a ternura. O lindo e o feio. O certo e o errado. A segurança e a desproteção. O pecado e o perdão. Eu vivo isso. Eu gosto disso, mas ainda canso-me. Eu gosto dessa cidade cinza. Eu prefiro mil vezes entrar em um metrô num dia cinza, andar sozinho por São Paulo e me frustrar, do que estar em outra cidade pacata qualquer. Eu gosto desse lugar que tanto me bate. Gosto de estar aqui escrevendo sobre essa cidade cinza e grande. São Paulo me moldou de uma forma surreal. Nunca escrevi sobre São Paulo, apenas falei. Se você mora em outro lugar, não aconselho a sua vinda permanente para São Paulo. Aconselho a tua visita. Venha, visite, deguste do que São Paulo tem do bom e do pior, mas vá embora. Vá embora antes que São Paulo te abrace, te engula e depois te cuspa. Não diga que não te avisei. São Paulo é isso. São Paulo é aquilo. São Paulo é monótona. Eu poderia ficar aqui escrevendo o dia inteiro sobre São Paulo e sobre todas as coisas que já enfrentei, presenciei, vangloriei e amedrontei nela. Poderia falar mais ainda sobre o meu amor e o meu ódio por São Paulo. Poderia falar de todas as vezes que quase morri e todas as vezes que me senti realmente vivo nessa cidade. Poderia falar de quantas garotas eu já beijei e me apaixonei em São Paulo, assim como posso falar de quantas garotas eu já desprezei e ignorei. Quantas vezes enchi a cara nos melhores bares e piores botecos. Quantas vezes trabalhei nos melhores e piores prédios de São Paulo. Poderia escrever sobre quantas vezes me perdi em becos e vielas e avenidas. Quantos shows eu já fui. Quantas vezes apanhei e bati. São Paulo tem o seu glamour, mas também tem a sua luxúria. Tem o seu pecado, mas também tem o seu perdão. São Paulo tem de tudo um pouco e eu já vivi esse de tudo um pouco. Vivi muito, muito mesmo. E quase morri muitas vezes, muitas mesmo. Poderia escrever sobre todas elas, mas São Paulo já não me é tão interessante assim. Não hoje. Não agora. Não nesse momento.

São Paulo me frustra, me deprime, me odeia, me ama, me abraça, me engole, me joga fora e depois me pega de volta. Estou preso a ela e ela está presa a mim. Nunca sairei dessa cidade maravilhosa. Posso sair. Posso rodar o mundo, mas eu irei voltar. Eu sei que sempre irei voltar para os braços longos e cinza de São Paulo. Essa cidade me acolheu quando eu mais precisava e por conta disso tenho muitas histórias para contar. São Paulo é uma prostituta barata com muito glamour, luxúria, tristeza e solidão que está aqui para abraçar quem quiser, mas não diga que não avisei que ela te mostra tudo. O bom e o ruim. O ruim. O ruim. São Paulo é cruel quando quer ser cruel e você irá se arrepender de não ter me ouvido. Volte para sua terra se você não é daqui. Volte para sua terra antes que teu coração fique cinza, assim como o meu, assim como o de São Paulo. Se o teu coração ficar cinza em São Paulo, quer dizer que você se converteu para a religião dessa cidade, e então, meu caro, esse é o momento de dizer adeus. Disse adeus? Sente em uma mesa de bar de luxo ou boteco de lixo e desfrute uns belos drinques, você não terá mais nada do que fazer além disso. Amanheça em São Paulo, caia na sua vida de rotina e desfrute. Desfrute de tudo que falei antes. Do amor. Do ódio. Do luxo. Da tristeza. Do lixo. Do rancor. Do cinza. Desfrute de cada pequeno detalhe que São Paulo te entrega antes que você morra. Das prostitutas. Dos bares. Das bibliotecas. Do centro. Dos lares. Dos prédios. Da avenida Paulista e da Rua Augusta. Da galeria do rock e dos bordéis e cinemas pornográficos. Dos shoppings e dos teatros. Das casas de shows e orquestras. Dos shows caríssimos até os shows gratuitos nas ruas do centro. Dos punk's e skin heads. Dos ônibus aos metrôs. Das rodoviárias até as estações. Se perca em São Paulo. Se encontre. Se frustre. Se deprima. Ame. Odeie. Transe. Beba. Fume. Adoeça. Apanhe de São Paulo, apanhe muito, mas seja abraçado quando você mais precisar. E viva São Paulo, mas nunca, nunca mesmo, deixe que São Paulo viva a vida por você.

Certo?

Ah, lembre-se disso: São Paulo é como a confiança. É uma mulher ingrata que você amou, deu de tudo, entregou a sua alma e depois te jogou fora como se fosse um nada. São Paulo é um lugar interessante até demais, mas você não é nem um pouco interessante para São Paulo.

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