terça-feira, 4 de novembro de 2014

Nem a morte me salva do amor

Eu não me sinto salvo. Eu não me sinto em sã consciência. Sou insano e louco e perturbado e triste. Eu já dormi na rua. Fiquei algumas noites para fora de casa. Eu já apanhei injustamente e apanhei calado. Eu já bebi demais e fui largado em qualquer lugar, mas outras vezes cuidaram de mim. Eu já corri de seres humanos ruins. Já senti vontade de nunca sair de minha casa. Eu já fui humilhado. Eu já chorei em silêncio. Eu gritei quando deveria ficar em silêncio e me calei quando deveria gritar. Eu já me senti sozinho, inúmeras e inúmeras vezes. Eu sempre me sinto sozinho, tendo pessoas ao meu lado ou não. Eu sou sozinho. Eu sou esquecido. E esqueço também, mas em algum ponto eu lembro das pessoas e não cobro nada para que elas lembrem de mim. Eu já sofri por amor. Sofri muito por amor. Chorei. Odiei. Serrei os punhos. Fechei os olhos. Ajoelhei e implorei por perdão. Eu entrei em depressão. Eu escrevi cartas e contos e textos e resenhas. Joguei fora todos os rascunhos e me afundei em bebidas fortes. Eu já me cortei. Cortei meus pulsos fracos quando a minha alma estava fraca. Já tentei me matar. Já tentei me envenenar e pensei em me enforcar. Ouvi canções tristes nos meus discos e nas rádios e continuei sofrendo por amor. Sofri por meu pai. Perdi meu pai, mesmo que eu nunca tenha tido o meu velho aqui do meu lado. Eu já senti inveja de todas as pessoas que têm seus pais ao seu lado e já senti raiva por todos aqueles que não respeitam os pais que estão ali com eles, de criação ou não. Eu sinto isso e vivo isso. Eu sou triste desde a barriga de minha mãe. Eu era triste por ter sido rejeitado quando ela descobriu que eu não era o que ela queria. Hoje sou amado, muito amado, mas continuo sendo triste. É triste demais ser triste e não sei porque faço questão de repetir essa mesma história, mas quero escrever e estou aqui escrevendo para alguns gatos pingados que ousam ler meus contos tristes e chatos. Eu escrevo por me sentir perturbado e insano e louco e triste. Repito minhas palavras e elas falam algo por mim. Eu sempre repito alguma coisa que esteja me conflitando naquele exato momento. Eu trabalho. Eu estudo. Eu corro atrás de tudo. Eu sonho. Eu vivo. Eu sofro. Eu choro. Eu me alegro e me entristeço. Lembro de meus amigos e eles me esquecem. Esqueço dos meus amigos e eles se lembram de mim. Assim como, esqueço do amor e ele se lembra fortemente de mim. Lembro do amor e ele me despreza. É triste ser desprezado, mais triste ainda ser desprezado e esquecido pelo seu amor. Eu odeio o meu amor e ele ama o meu ódio. Ele se alimenta do meu ódio. E eu continuo me sentindo triste e sem me importar com minhas deprimentes e amargas repetições. Você irá ler isso? Pensará no meu amor? Sentirá curiosidade em saber quem é o meu amor? Sinta-se a vontade.

Não escrevia há uma semana. Estava me sentindo sufocado por conta disso. As palavras sempre ousam me sufocar quando me afasto delas. Elas pegam pesado com a minha mente quando tento me esquecer que sei escrever alguns pequenos contos ruins - quer dizer, existem as pessoas que falam que meus contos são enormes, mas são as pessoas preguiçosas que, mesmo assim, falam que todos os meus contos são sensacionais e lindo -, me pegam de jeito e esboçam em mim alguns rascunhos para que eu bote tudo para fora. Essa é a minha vida, depender de algumas breves palavras para se sentir um pouco melhor ou feliz ou alegre ou apenas menos triste. QUE INFERNO, eu preciso das palavras para me sentir um pouco mais feliz. E quando eu não tiver mais forças para escrever? E quando eu não souber mais o que escrever? E quando o meu desespero não for capaz de me trazer algo de valor? OH, JESUS CRISTO. Me sinto um surdo, cego e burro ao pensar que nunca sentirei desespero e tristeza e depressão a ponto de não saber o que escrever. Como me sinto burro ao pensar que um dia poderei ser feliz e ser amado de verdade. Como me sinto estúpido em pensar que o amor e a felicidade estão lá fora, em algum lugar, em algum canto. Uma vez eu joguei o amor fora, mas ele voltou. Ele sempre volta. SEMPRE. Mas eu sei que ele está lá fora. Mas eu sei que ele está aqui dentro de mim, porque estou sentindo esse amor mais forte do que nunca. Meu peito está apertado, pulsando, bombeando. Ele palpita forte quando ouço um nome. Ele chega a ponto de sofrer uma parada quando esse alguém está perto de mim e ele sofre quando ela está longe. Longe. Muito longe. Sempre longe. Mas tão perto. Eu não me importo com o amor, nunca me importei, mas ele sempre faz questão de se importar comigo. O meu amor se junta sempre com minhas tristezas. Meu amor e minhas tristezas sempre vão me moldando e fazendo com que eu seja essa pessoa patética que um dia caiu de joelhos para orar. Hoje eu sei que nada e nem ninguém irá responder minhas orações. Não existe Deus. Quer dizer, me sinto dentro de muita arrogância em escrever assim, mas eu sei e confio sabiamente de que Deus não existe. Ele não vai me salvar. Ele nunca me salvou. Ele nunca salvou ninguém. Ele nunca salvou o meu amor. Meu amor nasceu, cresceu, adoeceu, sofreu e morreu. Morreu. Apenas morreu. E me deixou um grande vazio. Minha felicidade foi junto. Minha tristeza e depressão tomaram conta de mim, pelo meu amor e por tudo que já passei. Escrevi quase todas as minhas situações e pensamentos ruins, mas falta muito, muito, mas muito mesmo. Muita coisa ruim já me aconteceu e eu tenho certeza absoluta que sou esse ser humano genioso, pensante e triste por conta disso. Eu escrevo demais e as vezes, tudo que escrevo, parece mentira. Eu nunca escrevi uma mentira ou algo inventado. Eu nasci, cresci, amei, sofri, amadureci e quase morri de verdade. E foi tudo muito triste.

Minha cerveja acabou. Meu amor renasceu. A música clássica chegou em seu último segundo. Minhas palavras não querem mais sair. O que mais eu deveria escrever então? Sobre o meu amor ou sofrimento? Sobre mim ou sobre ela? Sobre felicidade ou tristeza? Sinceramente, não sei mais o que escrever. Jurei para mim mesmo que escreveria um conto melhor que o último. Que escreveria como se fosse morrer amanhã. Que escreveria algo que encantasse de verdade caso eu morra essa madrugada ou caso eu resolva cometer suicídio, mas não me esforcei nem um pouco para isso. Apenas precisava colocar para fora todo o meu sofrimento, minha tristeza, minha depressão e, claro, o meu amor. Eu precisava escrever algo novo sobre o meu amor, porque isso está me sufocando, me deixando estranho, fazendo eu pensar em situações e momentos felizes. Não. Eu não quero um amor. EU NÃO QUERO AMAR, não estou preparado ainda. Eu não sei lidar com essa situação e acho melhor eu cometer suicídio antes que isso cresça e piore. NÃO, DROGA, nem suicídio eu posso cometer, não teria mais como beber algumas boas e geniosas cervejas. Mas que diabos, não sirvo nem para me matar, porque eu serviria para amar?

Me perdoe, meu amor. Você já me faz tão bem!

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