segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Papel, caneta e coração

Se eu não viver, o que irei escrever?
Se eu não escrever, o que irei viver?
Decidi virar esse escritor de quinta e por conta disso tenho que sair de casa para viver. Viver muito. Eu preciso viver para conseguir escrever alguma coisa, senão eu falharei com essa minha tentativa frustrada de ser alguém por conta das palavras. Ah, para o inferno com isso de ser alguém melhor. Eu nunca quis ser rico ou famoso ou conhecido por escrever alguns contos ruins. Eu nunca quis mais do que apenas demonstrar meu desespero, pensamento e sentimento em relação a vida. Sinto vontade de cometer suicídio sempre que alguém fala que eu poderia escrever um livro e virar o melhor escritor de todos os tempos, mas mesmo assim dei um tiro em meu próprio pé. Acabei de escrever o meu primeiro livro e odiei. Li, reli, e odiei. Mas que inferno, como eu odiei. Também não seria para menos, se eu odeio todos os meus contos e textos e lamentações, porque eu não iria odiar um livro que eu mesmo escrevi e logo estará sendo vendido em um lugar qualquer da internet. Se alguém terá que ganhar dinheiro com essa porcaria toda que seja eu, né?

Escrevo desde que me conheço por gente. Escrevo desde que me sinto essa pessoa triste e infeliz. Tornei-me papel, caneta e coração desde o momento em que tive a minha primeira depressão. MAS ESPERA. Eu já escrevia antes mesmo de ser completamente essa pessoa infeliz, mas escrevia coisas bonitas e românticas e felizes. Isso sim era triste. Não ter essa visão da realidade do mundo. Ser triste é ser uma pessoa que acredita ser feliz. Você não precisa de muito mais que isso se quer ser um escritor de verdade. Você precisa ser louco, ser triste, ter dor. Você precisa viver para ser um escritor. Você precisa ser muito mais que um ser humano feliz para ser um escritor de verdade. Você precisa ouvir músicas boas antes de escrever. Precisa se entupir de cerveja ou café antes mesmo de escrever. Precisa sentir as palavras chegando até você. Você não será um bom ou péssimo escritor se não conseguir sentir, pelo menos um pouco, as palavras chegando até você.
Do que estou falando? Mal terminei de escrever um livro e estou acreditando que sou um escritor de verdade? Estou prestes a cair no meu período patético de desligamento por conta disso. Sou apenas um escritor bêbado de quinta categoria, não sou mais que isso. As pessoas acreditam de verdade que sou um escritor de verdade e que tenho futuro com minhas palavras. Que eu não me mate por conta disso. Que minhas loucuras me entreguem forças para sair dessa, senão não sei o que será de mim daqui para frente.

O seres humanos têm algo em comum. Somos assim e acredito que você irá entender. Nós nunca gostamos das coisas que criamos e fazemos. Dificilmente nos damos por satisfeitos com todas as coisas que nós mesmos criamos. Um desenhista dificilmente irá se contentar com seus desenhos. Um músico dificilmente se contentará com suas músicas. Um fotógrafo dificilmente se contentará com suas fotos.  Um jornalista dificilmente se contentará com suas reportagens. Uma confeiteira dificilmente estará satisfeita com seus bolos. A porra de um escritor dificilmente se contentará com seus contos. E assim vai. Nunca estamos felizes e satisfeitos com as coisas que fazemos. NUNCA. Sempre odiamos tudo que nós mesmos fazemos. Sempre queremos ser melhores do que a ultima coisa que tenhamos feito. Um desenhista sempre irá querer fazer um desenho melhor que o ultimo. Um músico irá querer fazer uma música melhor que a ultima. Um fotógrafo sempre estará atrás de fotos melhores. Um jornalista SEMPRE estará atrás de polêmicas melhores. Uma confeiteira sempre irá querer melhorar seus ingredientes e enfeites. A porra de um escritor está sempre querendo superar seus últimos textos e contos e tristezas. Todos tem algo em comum, menos os escritores. Todos são capazes de sempre se superarem por conta de suas artes, mas os escritores são obrigados a viver mais e mais para conseguirem superar seus contos. Se um escritor vive uma vida de merda, seus textos serão um grande saco de merda. Se um escritor vive uma vida a mesa de um bar, seus textos serão apenas para bêbados e loucos. Se um escritor vive atrás de prostitutas e romances e amores, seus textos serão apenas sobre sexo, tristezas e solidão. Se um escritor vive atrás de finais felizes, ah, meu caro, seus textos serão um clichê sem fim. Se um escritor vive como eu, ele será apenas um escritor bêbado de quinta escrevendo sobre todas essas coisas. Um pouco aqui. Um pouco ali. Um pouco lá. Não digo que o modo de viver de todos os escritores estejam erradas e só a minha esteja certa ou que eu esteja vivendo errado e eles do modo certo, isso não existe, cada um vive a sua maneira, mas digo que todos os escritores devem ser papel, caneta e coração.

Você não precisa ser um escritor profissional para botar todas as suas loucuras para fora. Vai lá. Levante, viva e tente. Escrever salvou a minha vida, pode salvar a sua também. Somos todos escritores de nossas próprias vidas.

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