- O engraçado sobre os relógios é que se os deixássemos de lado não teríamos hora para partir, mas ainda os fixamos nos pulsos pois não queremos perder a contagem dos minutos nem dos segundos para nos encontramos outra vez.
O marinheiro de uma viagem só está sempre perdido. Perdido dentro de si. Perdido e cheio de si. E esquisito perdido marinheiro no tempo espaço dentro de uma mente mais perdida e esquisita de um tempo e espaço sem a espera de um milagre sequer. E ele escreve. Sozinho. Pensante. Solitário. Escrevendo. Escrevendo. Sozinho. Gênio. Sozinho. Pensante. Escrevendo. E pedindo ajuda. Gritando por socorro. Perdeu sua bussola de sentimentos e encontra-se com a corda em teu pescoço por não ter mais esperanças de amores sinceros em um mundo onde ele já não enxerga suas reais cores. Tudo tão cinza e perdido num tempo solitário de um espaço sem uma mente perdida para lhe tirar da solidão. E teus erros o atravessam no coração como o arpão do mais forte dos deuses. E teu navio ancorado no cais dos sentimentos está sendo afundado não só por ele mesmo, mas como por todas as pessoas que passam por ele e não são capazes de amar na mesma proporção que ele ama. E esse amor ninguém é capaz de entender. E sentir. E escrever. E talvez ele não faça tanta questão assim de compreensões amáveis e sinceras como ele espera - sem esperar -, porque ele cansou de amores e sentimentos e paixões e romances e chegadas e partidas. Todas as pessoas que caem de encontro em nossas vidas são capazes de partir sem que ao menos a gente espere, sem um adeus, sem uma despedida sincera. E ele não é homem para despedidas. Mesmo que ele saiba que tua vida é como o cais dos sentimentos ou um aeroporto, cheio de chegadas e partidas sem uma explicação nítida qualquer em que todos merecemos pelo menos um aceno com as mãos de que não voltaremos mais. E o mar me engole. Todas as noites. Em meus sonhos sou engolido por esses mares de sentimentos que me levam cada vez mais para longe de ti. E essas partidas são como porta-alfinetes em teu coração que nada tem a dizer e deixar além do vazio existencial dentro de si. As pessoas são todos esses alfinetes. E meus amores estão cravados no meu coração. Alfinetes com cabeças negras que deixam o meu coração mais escuro desde que meu último verdadeiro amor foi embora de minha vida sem uma despedida concreta e explicações de tudo que ousei sentir. Partidas são as únicas certezas de nossas vidas. Tanto quanto a morte. E cada partida que reluto e insisto em ter em minha vida, é o que me mata cada vez mais. Pouco a pouco. E o marinheiro tão apaixonado por romances, hoje já não é mais o mesmo. E ele se encontra triste, solitário, pensante, perdido, sozinho, escrevendo, pedindo ajuda, cabisbaixo e escrevendo. Escrevendo. Escrevendo. Escrevendo. Ele sabe que teu pedido de ajuda jamais será ouvido e entendido e compreendido e realmente olhado como algo não só criado e lindo de um escritor ou poeta que tanto tem a dizer. Que essa ajuda venha antes que seja tarde demais e o mar me engula por completo. Jamais quero dizer que já não sei amar por completo. Ainda sinto que existe um amor dentro de mim. Sim, ainda sinto. Ainda sinto que posso amar e ser feliz da forma que me é cabível. Eu sei que sinto. E esse amor é por ti, minha querida. Mas, ainda sim, tua partida alfinetou esse coração enegrecido pelo tempo, mais uma vez. Outra vez mais. E o mar me engoliu por inteiro. Palavras já não valem de nada quando sei que teu tempo ao meu lado se acabou por completo.
- Já leu algo que escrevi?
- Sim.
- Acompanha?
- É tudo muito triste. Pra baixo. Não sei se quero acompanhar.
- Entendo.
- Porque é tudo tão triste dessa forma?
- Apenas escrevo meus sentimentos sinceros. Não forço nada. Não insisto em nada. Não fico horas na frente de uma tela na esperança que saia algo apenas para agradar ou causar admiração em alguém. É apenas...sincero...o eu. De verdade. Verdadeiro.
- Poderia escrever coisas mais felizes.
- Não sei escrever quando estou..."feliz". É assim que se fala?
- "Feliz"?
- Acredito na felicidade tanto quanto acredito em Deus, meu bem.
- Pelo menos ainda acredita no amor.
- Não mais. Deixei de acreditar. Amores escorrem por meus dedos tal qual a felicidade e não tem um Deus que possa vir me salvar ou alguém. É tudo interligado.
- Te entendo. Acredita que possamos ser felizes só por amar outro alguém?
- Já acreditei. Já fui feliz. Amei. Amei de verdade. E parti.
- Porque fez isso?
- Não sei lidar. Não merecia tanto amor.
- Ou ela não merecia teu amor?
- Meu amor não é lá grande coisa, meu amor.
- Porque se autodeprecia tanto? Você fala como se fosse a pior das criaturas do mundo.
- E não sou? Joguei fora o meu amor.
- Ele só partiu.
- Tudo parte. Todos partem. Amores acabam. E no fim, tudo é apenas mais uma crise alcoólica ou mais uma poesia em forma de carta largada dentro de uma garrafa.
Escrevendo. Escrevendo. Solitário. Pensando. Gênio. Pensante. Solitário. Sozinho. Sozinho. Bem sozinho. Escrevendo...
...leve meu amor com você, querida. Toma!
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