terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

De tanto mergulhar em pessoas rasas, afogou-se em si mesmo

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- O argumento ignorante não se mantém.
- Qual seria o argumento ignorante, querida?
- Esse de que não amarás nunca mais. De que sentes raiva do amor. E escrever tantas coisas ruins sobre tal em todas as tuas poesias.
- O amor é um argumento ignorante, meu bem.
- Você é um argumento ignorante, querido. O amor não.
- O amor é um fracasso, linda.
- Você é um fracasso. E essas suas bebedeiras. E esses seus tragos. E essas suas noites solitárias escrevendo milhões de cartas que ninguém se importa em ler.
- Somos fadados ao fracasso a partir do momento em que somos paridos por nossas mães. Reflita, o amor de nossas mães nos colocam nesse mundo de fracassos e perdas e decepções e tristezas, começamos com o fracasso. Por amor e vivemos pelo amor.
- Você é um gênio patético. Sorte que escreves muito bem.
- Pegue mais uma cerveja para mim, querida. Prometo ser a última.
- Você disse isso na última que lhe entreguei.
- Cervejas são como amores. A gente bebe desse amargor sabendo que se trata de um erro.

Sonhei com o meu amor noite passada e acordei no fracasso. Tristeza absoluta. Solidão em plenitude. E eu apenas queria não ter mais a posse do sentir. Queria não mais me afundar em bebidas todas as noites para conseguir dormir um pouco sem ter que sonhar com o olhar de quem tanto me atormenta. Queria poder não sentir falta de teus braços. Essa falta constante que me apavora cada dia que passa. E isso não me traz um momento de paz. E toda aquela calmaria de teus braços que um dia senti, hoje é o meu maior tormento. Minha maior tentação. Minha maior enfermidade. E eu queria conseguir viver sem ti sabendo que sou forte o suficiente para continuar minha vida. E teus lábios, que tanto seguraram a barra de depressões maiores, hoje já não caem de encontro com meus ouvidos que tanto queria te escutar. Escutar o porque da sua partida. O porque da tua falta de despedida. O porque do teu descaso. Queria saber quando foi que se tornaste meu blues mais triste. Quando foi que se tornaste o motivo de eu beber tanto e o motivo de, vez ou outra, me encontrar tão deprimido a ponto de não querer entregar meu coração para mais ninguém. E eu queria saber quando foi que aprendi a sentir tanta falta assim. Se é que eu aprendi. E queria saber quando foi que retornei a escrever. Queria lembrar quando foi o começo dessa falta constante que me faz escrever cada vez mais e mais e mais sobre teu coração já partido por mim e que partiu de mim. E eu queria tê-lo em minhas mãos, não como sinônimo de posse, mas como sinônimo de que ele estará aqui para que sejas cuidado por mim, por mim e ninguém mais. E esse sintoma de posse me incomoda. Esse sintoma de abstinência. De tristeza. De falta. De desejo. Desejo do teu romance por mim. De tuas risadas. De teus olhos enormes ao anoitecer me chamando para se deitar logo com você porque está com saudade. Das cervejas que não tomamos. Aquelas duas cervejas que nunca tomamos juntos. E aqueles dois cigarros que não dividimos. E aqueles dois filmes que não assistimos mais juntos. E eu, na esperança de um final feliz, desejo que teus braços estejam em torno de alguém que te faça muito mais feliz do que nunca fui capaz, e que dividas todas essas coisas que um dia desejei sempre ter ao teu lado. E sabes aquelas poesias que ousei escrever sobre ti, meu bem? Todas aquelas declarações de amor? Queime. Assim como meu amor por ti queima aqui dentro diariamente. Jogue fora. Assim como me jogaste. E esqueça cada uma delas. Assim como me esqueceu tão facilmente e me tornaste o pior dos seres humanos existentes na terra, se é que tenho o privilégio de ser, pelo menos, isso para ti. E eu mergulhei em ti, assim como tentei mergulhar em uma imensidão de pessoas rasas e vazias depois de ti, bati a cabeça e me machuquei gravemente em todas elas. Pessoas rasas, vastas de uma solidão e carência sem fim que não posso aguentar. E tu sabes, meu bem. Me conheces o suficiente para saber que não sou capaz de lidar com tantas carências e tantos abraços que não sejam os teus. Sabes que nunca tive paciência para carências infinitas e desejos monótonos e sonhadores fúteis de um mundo que nada me agrega e agrada. Sabes, meu bem. Tu me conheceu melhor que ninguém. E por me conhecer tão bem, sabes que tu foste a unica pessoa em que me afundei, me afoguei, me perdi, estendi as mãos e tu sempre veio me salvar. Mas sabe, querida, estou me afogando cada vez mais dentro deste teu peito enegrecido por mim, e tu nem lembra mais como me salvar. E eu queria que me salvasse. De todo meu coração enegrecido por amores e romances rasos, queria uma salvação. Queria uma voz que me dissesse que tudo não passa de um pesadelo. Que tudo ficará bem. E que tudo não passou de lembranças pequenas e vazias de um coração que tanto queria amar. Esqueci o sentimento de ter o coração quente. Me afogo em ti e tu nem sabes. Me afogo em lembranças e tu nem sabes. Morro cada dia mais e tu nem sabes. E tudo isso por saberes que és o meu oceano de sentimentos mais profundo em que ninguém consegue me enxergar.

- Seu trabalho é sensacional!
- Que trabalho?
- Esses que escreves.
- Isso não é trabalho. Só...escrevo.
- Como assim?
- Não ganho nada para escrever tudo aquilo. Nem quero. Só quero ser salvo.
- Qual o teu segredo?
- Que segredo, porra?
- Como consegues escrever tão bem. Juntar todas as palavras. Dizer tudo que sente e conseguir espelhar tudo que os outros sentem?
- E aquela parte em que peço ajuda?
- Como você consegue criar poesias tão lindas?
- E aquela parte em que falo de suicídio?
- Tua forma de escrever sobre romances, sobre amores, sobre tragédias. É tudo tristemente magnifico.
- E aquela parte em que digo que estou me afundando em tragos e goles?
- Você escreve tão bem. Cheguei a chorar sorrindo lendo uma carta tua.
- E aquela parte em que digo que ninguém me entende?
- Eu queria escrever assim, tão bem quanto você, mas não consigo expressar nada do que sinto.
- E aquela parte em que disse que tentei me matar, porra?
- É fascinante esse seu dom.
- PORRA, ESTAS ME OUVINDO?!
- Oh querido, me desculpe. Estava viajando nessas tuas cartas, senti até vontade de transar com tanta coisa linda.
- OH PORRA, entendeu alguma coisa que eu escrevi?
- É genuinamente triste, mas tudo tão lindo.
- Você é maluca, meu bem.
- Maluca apaixonada pelos seus textos.
- Oh caralho, não entendeu nada do que eu queria dizer, como...
- É lindo, amor. É lindo.
- ...você consegue?

OH CARALHO, ELA É MALUCA!!!
Deve ser mais uma que arriscou amar. Deve ser mais uma que se entregou a essa loucura de sentimentos em que eu não sinto mais necessidade e vontade e posse de ter. Que se foda o amor!
E em ruínas, floresço, só para mostrar que flores podem ser mortas facilmente como todas as borboletas existentes em meu coração e estômago. Que se foda o amor, meu amor! Cansei dessa merda.

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