quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Poesia para ser lida em uma mesa de bar

Eu estou morrendo.
Cada minuto que passa estou morrendo. Cada segundo que passa estou envelhecendo. Cada respiração profunda que estou dando é um esforço a menos em minha vida. Todos estamos morrendo. A vida está passando e estamos morrendo. Morrendo. Morrendo. Morrendo.
Acredita nisso ou nunca parou para pensar nisso?
É algo incrível para pensar. A humanidade está lá fora defecando suas regras e fazendo suas merdas e nós estamos aqui apenas morrendo. Droga. Eles também estão morrendo. Nunca estamos livres da morte e cada minuto que passa é um caminho mais próximo para o nosso velório. E a gente se preocupa com coisas tão fúteis ao invés de tomar um belo e grande copo de cerveja. Sente em uma mesa de um bar e tome um belo e grande copo de cerveja ou então sente em frente a um balcão de alguma cafeteria e tome uma bela e grande xícara de café. Aproveite a vida. Olhe o que tem de melhor nela. Você está morrendo, lembra? MORRENDO.
A vida é como uma orquestra frustrante e alegre se afogando em depressão. A vida é uma música clássica longa, mas que por ser tão paralisante ela acaba rápido. Quando nos damos conta, a música acabou ou a nossa vida acabou. E quantos estão morrendo enquanto escrevo essas palavras? E quantos morreram enquanto Beethoven compunha a sua nona sinfonia? E quantos morreram escutando essa sinfonia? Estamos morrendo. Morrendo. MORRENDO.

Eu estou morrendo e não fazendo mais questão dos que me esquecem. Estou morrendo e não fazendo questão dos esquecidos. Porque eu deveria me importar se não sou tão importante para todas aquelas pessoas que um dia me disseram que eu era importante para a vida delas? Talvez elas notem o quão importante sou para elas assim que minha morte for declarada. Talvez eles nem notem a minha ausência. Eu não preciso correr atrás das pessoas e dizer que sinto falta. Não preciso ir atrás delas e dizer que elas sumiram. Também não quero que elas venham atrás de mim para dizer que eu sumi. MAS QUE DIABOS, elas sabem onde moro, sabem como vivo, sabem o que faço, elas tem meu número. Essas pessoas que me colocam na lista dos esquecidos poderiam até me mandar uma carta, elas conhecem o meu endereço. Porque eu deveria me importar com o esquecimento delas por mim? NÃO, já não me importo. Estou morrendo, mas ainda me encontro aqui. Estou morrendo, mas elas podem vir atrás de mim e me deixarem com a impressão de que não sou tão esquecido assim. É difícil acreditar nas pessoas quando elas dizem que sou importante para elas, mas elas passam meses e meses sem nem lembrar o meu nome. Essa sociedade que lista os esquecidos lá no fundo do baú é que nem políticos, eles estão lá, contando mentiras e mais mentiras com seus sorrisos falsos e você está acreditando e acreditando e acreditando e morrendo, até que um dia você se encontra totalmente na merda. Eu não preciso ser lembrado sempre, mas também não preciso ser esquecido para todo o sempre. Mas que droga. Eu estou morrendo. Eles estão morrendo. E as pessoas esperam a morte de alguém ou a delas mesmo para saberem que significam ou significaram alguma coisa. A humanidade me entristece.

Um dia me disseram "- Você não consegue sequer escrever um romance" e no mesmo dia outra pessoa me disse "- Você me deixa triste com seus romances. Como você consegue escrever tão bem?". Eu sou um péssimo escritor, meu bem. Um péssimo escritor que está morrendo. Leia e releia essas minhas palavras de quinta categoria. Um bêbado sequer, cambaleando dentro de um bar, compraria essas minhas palavras. EU NÃO CONSIGO ESCREVER UM BOM ROMANCE. E eu estou morrendo. E eu preciso de uma cerveja. E eu preciso escutar uma música clássica deprimente. Mozart. Tchaikovski. Vivaldi. Façam mágica diante dos meus ouvidos. Deixa eu ouvi-los alto e claro enquanto a humanidade toda está morrendo. Deixa eu ouvi-los alto e claro enquanto estou escrevendo essas palavras medíocres e morrendo. Morrendo. Morrendo. MORRENDO.
Acabei de escrever um romance. Um romance sobre o meu delírio cotidiano. Um delírio cotidiano que nem um bêbado se identificaria e gostaria de comprar. Eu sou um bêbado e estou morrendo. Eu sou um louco e estou sendo esquecido. Eu sou um poeta de quinta categoria, um péssimo escritor, mas um dia escrevi um romance que começava assim: "Eu estou morrendo. Cada minuto que passa eu estou morrendo. Cada segundo que passa eu estou envelhecendo. Cada respiração profunda que estou dando para a vida é um esforço a menos em minha vida. Todos estamos morrendo..."

Que eu seja esquecido por esses contos ruins e deprimentes que aqui escrevo. Me perdoem. Amém.


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