Eu estou morrendo.
Cada minuto que passa estou morrendo. Cada segundo que passa estou envelhecendo. Cada respiração profunda que estou dando é um esforço a menos em minha vida. Todos estamos morrendo. A vida está passando e estamos morrendo. Morrendo. Morrendo. Morrendo.
Acredita nisso ou nunca parou para pensar nisso?
É algo incrível para pensar. A humanidade está lá fora defecando suas regras e fazendo suas merdas e nós estamos aqui apenas morrendo. Droga. Eles também estão morrendo. Nunca estamos livres da morte e cada minuto que passa é um caminho mais próximo para o nosso velório. E a gente se preocupa com coisas tão fúteis ao invés de tomar um belo e grande copo de cerveja. Sente em uma mesa de um bar e tome um belo e grande copo de cerveja ou então sente em frente a um balcão de alguma cafeteria e tome uma bela e grande xícara de café. Aproveite a vida. Olhe o que tem de melhor nela. Você está morrendo, lembra? MORRENDO.
A vida é como uma orquestra frustrante e alegre se afogando em depressão. A vida é uma música clássica longa, mas que por ser tão paralisante ela acaba rápido. Quando nos damos conta, a música acabou ou a nossa vida acabou. E quantos estão morrendo enquanto escrevo essas palavras? E quantos morreram enquanto Beethoven compunha a sua nona sinfonia? E quantos morreram escutando essa sinfonia? Estamos morrendo. Morrendo. MORRENDO.
Eu estou morrendo e não fazendo mais questão dos que me esquecem. Estou morrendo e não fazendo questão dos esquecidos. Porque eu deveria me importar se não sou tão importante para todas aquelas pessoas que um dia me disseram que eu era importante para a vida delas? Talvez elas notem o quão importante sou para elas assim que minha morte for declarada. Talvez eles nem notem a minha ausência. Eu não preciso correr atrás das pessoas e dizer que sinto falta. Não preciso ir atrás delas e dizer que elas sumiram. Também não quero que elas venham atrás de mim para dizer que eu sumi. MAS QUE DIABOS, elas sabem onde moro, sabem como vivo, sabem o que faço, elas tem meu número. Essas pessoas que me colocam na lista dos esquecidos poderiam até me mandar uma carta, elas conhecem o meu endereço. Porque eu deveria me importar com o esquecimento delas por mim? NÃO, já não me importo. Estou morrendo, mas ainda me encontro aqui. Estou morrendo, mas elas podem vir atrás de mim e me deixarem com a impressão de que não sou tão esquecido assim. É difícil acreditar nas pessoas quando elas dizem que sou importante para elas, mas elas passam meses e meses sem nem lembrar o meu nome. Essa sociedade que lista os esquecidos lá no fundo do baú é que nem políticos, eles estão lá, contando mentiras e mais mentiras com seus sorrisos falsos e você está acreditando e acreditando e acreditando e morrendo, até que um dia você se encontra totalmente na merda. Eu não preciso ser lembrado sempre, mas também não preciso ser esquecido para todo o sempre. Mas que droga. Eu estou morrendo. Eles estão morrendo. E as pessoas esperam a morte de alguém ou a delas mesmo para saberem que significam ou significaram alguma coisa. A humanidade me entristece.
Um dia me disseram "- Você não consegue sequer escrever um romance" e no mesmo dia outra pessoa me disse "- Você me deixa triste com seus romances. Como você consegue escrever tão bem?". Eu sou um péssimo escritor, meu bem. Um péssimo escritor que está morrendo. Leia e releia essas minhas palavras de quinta categoria. Um bêbado sequer, cambaleando dentro de um bar, compraria essas minhas palavras. EU NÃO CONSIGO ESCREVER UM BOM ROMANCE. E eu estou morrendo. E eu preciso de uma cerveja. E eu preciso escutar uma música clássica deprimente. Mozart. Tchaikovski. Vivaldi. Façam mágica diante dos meus ouvidos. Deixa eu ouvi-los alto e claro enquanto a humanidade toda está morrendo. Deixa eu ouvi-los alto e claro enquanto estou escrevendo essas palavras medíocres e morrendo. Morrendo. Morrendo. MORRENDO.
Acabei de escrever um romance. Um romance sobre o meu delírio cotidiano. Um delírio cotidiano que nem um bêbado se identificaria e gostaria de comprar. Eu sou um bêbado e estou morrendo. Eu sou um louco e estou sendo esquecido. Eu sou um poeta de quinta categoria, um péssimo escritor, mas um dia escrevi um romance que começava assim: "Eu estou morrendo. Cada minuto que passa eu estou morrendo. Cada segundo que passa eu estou envelhecendo. Cada respiração profunda que estou dando para a vida é um esforço a menos em minha vida. Todos estamos morrendo..."
Que eu seja esquecido por esses contos ruins e deprimentes que aqui escrevo. Me perdoem. Amém.
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