quarta-feira, 10 de outubro de 2018

...e se leres essas palavras, queime-as.

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Não escrevo há mais de um ano. Nada como continuar fadado ao fracasso. E já não me importo. Acho que nunca me importei. Continuo lendo meus livros, minhas poesias, minhas tristezas. Só não cuspo nada mais disso. Nunca mais escrevi. Não lembro a última vez em que senti vontade. Não me importo também.
Continuo bebendo minhas cervejas. Sustentando minhas paranoias. Criando sonhos dentro de uma mente em que já não lembra muito sobre o sonhar. Continuo amando. Vestindo as velhas camisetas. Tendo todos os problemas. Deixando minha mente acreditar que amanhã talvez seja o fim de algo que nem começou. E atravesso outra cerveja por minha garganta.
Estou alto. E não me importo. Estou bêbado. E continuo escrevendo. E sozinho. E não me importo. E não lerei nada do que aqui conterá. Pouco ainda me importo. Deixa meus dedos lançarem mais um conto perdido que minha mente insiste em borbulhar por minhas entranhas. Nem lembro mais como se escreve tais palavras, mas sempre as sinto. Nunca deixei de sentir tais palavras que sempre soam como desespero para mim. E o grito contido dentro desse peito apertado está cada vez mais devastador. A mente chora. O coração sangra. O estômago vibra. A vida me bate. E eu já não me importo.
Mais um gole.
Cerveja qualquer. Corpo qualquer. Quarto vazio. Vontade de chorar. Meu cachorro passando pelas minhas pernas, sinto as cócegas, mas o peito fala mais alto. Desespero. Ansiedade. Tristeza. E não me importo. Tudo se passou. Muita coisa mudou. Muita gente se foi. Muita coisa se revirou. E meu quarto continua tão bagunçado quanto meu coração. Quanto minha vida. Pedaços de cartas rasgadas por todos os meus arquivos. Garrafas vazias pelos cantos. Ventilador de teto faz seu barulho e já não me enxergo no espelho. Não sei se deveria estar escrevendo, exatamente, essas palavras. Essas coisas. Esses sentimentos tristes de quem já mal sabe escrever. Esqueci como se faz. Mas sei tudo que devo sentir nesse exato momento, e isso pesa demais sobre meus ombros. O mundo já é pesado demais. O fardo é insustentável demais. Eu que sempre fui aquele menino que queria mudar o mundo e um dia chegou a acreditar nas pessoas, hoje já não quer mais sair desse quarto completamente bagunçado. Que o barulho da chuva me traga boas lembranças. E que o mundo me traga boa sorte e conspire ao meu favor pelo menos um pouco, gostaria de dar alguns sorrisos sinceros.

Vamos falar de amor? Que tal tentar lembrar o que sempre pensei sobre o amor?
Já não me importo. Talvez. Não sei. Não importa. Para mim. Para ti. Para eles.
Ainda sinto o gosto dos teus lábios passando nos meus. Ainda sinto o abraço quente de como quem diz para ficar. Ainda ouço as palavras de que tudo irá ficar bem. Ainda vejo os olhos grandes como de quem me chamasse. Me chamasse para algo que nem sei o que é. E não me importo. Não me importo com o amor. Não me importo com meu quarto bagunçado. Não me importo em quem lerá tais palavras ou o que pensarão. Não me importo se desaprendi a escrever - se é que um dia eu soube. Não me importo de me sentir doente ou sozinho ou triste ou amando incondicionalmente. Não sei gostar pouco. Não sei o meio termo. Eu gosto ou não gosto. Eu amo muito ou não amo nada. Estou cansado. Nada importa.

Ou talvez eu só finja que não importa.
E você finge se importar.
Quem sabe começamos a acreditar em algo.


O que essa carta quer dizer afinal?


Nada.

Diálogo 1: - Tudo vai ficar bem!
Diálogo 2: - Eu finjo que acredito no que dizem sobre o amor. E sobre a vida.

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