quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Diálogo de boteco (Desabafos tão normais de Dezembro)

Deixa eu morrer por amor. Deixa eu sofrer e chorar e beber e morrer para depois renascer e voltar a ser chato mais uma vez. Deixa eu acreditar que esse amor aqui dentro de mim irá durar para sempre. Acreditar que estou feliz apenas por amar alguém. Deixa. Deixa eu ser feliz, porra! Deixa-me tentar acreditar que o amor me salvou. Fazer planos para o futuro em nome de um outro alguém e esquecer o meu passado. Deixa-me ser burro dessa forma. Acreditar em filmes de romances com finais felizes ou enxergar o nome de alguém em cada canção de amor. Há tempos não escrevo sobre o amor.
- Quando foi a ultima vez que você amou, querido? - ela perguntou.
- Meu bem, meu bem, como sabes que já amei? - perguntei.
- Está estampado em teu olhar triste, querido. Quem irá salvar esse teu olhar lindo da decepção? - ela disse e sorriu antes de beber um gole de cerveja.
- O amor é capaz de salvar alguém. Acho que a gente só se perde quando estamos amando - respondi e pedi uma cerveja para o atendente do bar.
- Você fala sempre muito mal do amor, querido. Muito mal. Entristece-me esse teu jeito.
- Botecos sujos como esse são feitos para falar mal do amor ou conseguir uma prostituta barata, seja lá o que for, ambos me farão sair frustrado daqui de dentro - eu disse.
Bebi minha cerveja e ela me acompanhou.

O amor mata pouco a pouco. Te faz feliz. Te enobrece. Te faz ser uma nova pessoa, mas ele cresce, cresce muito dentro de ti e, se você não tem uma cabeça sã e certa do que quer, você se perde. Então ele te assassina, esfaqueia teu coração e é ai que você fica infeliz, perde a dignidade e nobreza, se torna uma pessoa chata, patética e velha. Não deixe o amor te encontrar, prefira a morte invés do amor, mas se ele te encontrar não se perca, mantenha os pés no chão e seja forte ou se prepare para morrer ou estar escrevendo um conto sobre o amor em uma mesa suja de um bar qualquer.
O amor me encontrou, deixa ele me matar. Deixa, não importo-me mais.

*

Dezembro chegou. Enfeites, luzes de natal, papai noel, presentes. Toda aquela correria chata e patética de final de ano. Sempre assim. Sempre isso. E todo mês de Dezembro eu sinto essa vontade absurda de não sair de casa o mês inteiro. Natais me deixam tão deprimido quanto os outros feriados do ano. Minha alma permanece cabisbaixa o mês inteiro e meu coração se encontra mais triste do que todos os enfeites de natais jogados no fundo do lixo. E o que eu faço? Escrevo. Escrevo sem parar. E me frustro. 
Dezembro começou me dando um banho de realidade. Dezembro começou faz quatro dias e estou escrevendo só hoje, simplesmente, pelo fato de estar me sentindo o pior dos seres humanos. Motivo: Por meu pai. 
As pessoas acreditam sabiamente que eu não sabia quem ele era e como ele era. O que ele fez e fazia. Os erros, as falhas, as bobagens. Sim, eu sabia de tudo isso. Escrevi inúmeras vezes sobre o meu falecido pai e poucos entendem o verdadeiro motivo de eu sentir tanta falta "dele". Não. Não sinto falta da maldita pessoa que ele era, sinto falta da companhia de um pai verdadeiro. Um pai biológico. Sinto falta de conhecer a pessoa que fez eu estar aqui enfrentando todos os anos esses natais desgraçados e chato e monótonos e sem fim. Preciso ressaltar que meu pai é um homem de sorte nesse exato momento, ele não está aqui para ouvir todas aquelas músicas infernais de natal e o presente dele está bem escondido dentro desse coração vazio que aqui vos escreve. 
Deixem eu escrever. Deixem. Me deixem sofrer quietinho, em silêncio, em paz. Me deixem ser esse velho de 23 anos amargurado pela falta de alguém, por favor. Não é pedir muito. 
E reivindico a liberdade em continuar escrevendo meus contos tristes e melancólicos. Eles sempre me salvam de qualquer loucura ou suicídio. Dificilmente as pessoas lerão algo lindo e feliz de mim e elas ficam chocadas por conta disso por estarem acostumadas demais com contos felizes e contos de fadas. No meu mundo não existe nada cor de rosa. Eu sinto muito.
Meus contos não precisam ser grandes ou bons ou alegres ou românticos ou até mesmo inspiradores, eles só precisam me salvar de mim mesmo. Salvar-me de minhas loucuras. Um belo jeito de não arriscar cometer suicídio. Uma bela forma de não morrer por minhas próprias mãos e deixar saudade e tristeza no peito daqueles que ousam me amar. E para aqueles que fazem isso, os loucos e insanos que ousam me amar, que eles agradeçam a existência de meus contos dia após dia.

*

O amor é louco                                           Loucura rima com tortura
E eu sou louco                                           Amor rima com dor
E eu me perco                                            Dor rima com qualquer amor     
O amor me encontrou                                E eu quero a mulher mais linda
                                                                   da cidade        
             Oh inferno!                                   E chega de palavras vazias
Não. Não. Esconda-me                             O amor me encontrou
O amor me encontrou                               E eu chorei por meu pai                                                    
e eu não sei escrever poesia                      enquanto o natal chegou.
ou poemas ou rimas

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