terça-feira, 19 de agosto de 2014

Pequenas palavras sobre o grande amor

Eu poderia escrever uma linda história sobre o amor. Poderia falar bem sobre esse sentimento. Poderia até mesmo fingir que sei amar e que sinto falta em saber amar, quer dizer, fingir sentir falta do tempo em que pensava que sabia amar. Medíocre engano. Me sinto péssimo em sentir vontade de escrever sobre o amor. Minhas vontades de escrita sempre saem em palavras verdadeiras, em sentimentos verdadeiros, em pensamentos verdadeiros e eu queria alguma vez poder fingir coisas boas e sorrisos de apaixonado, perdi essa essência. O amor um dia me destruiu, entrou em mim como um tumor, cresceu, cresceu fortemente, pressionou, me fez sofrer, me fez chorar, me fez mudar e aqui me encontro, escrevendo e fingindo ser feliz e fingindo amar e fingindo ser um grande escritor. Sou apenas um escritor de quinta que já sofreu o suficiente pra se expressar de tal forma.

Minhas verdadeiras palavras sobre isso encontram-se nas próximas linhas. Me embebedo neste momento e entrego meus reais sentimentos a todos os que sabem amar.

*

Meu amor foi dilacerado. Meu romance foi apagado. Teu nome foi esquecido. Meu peito foi rasgado e sucumbido a falência de todos os sentimentos. Cartas eu já não escrevo mais. Calafrios eu já não sinto mais. Frios na barriga só pelo medo da morte. Borboletas não são mais sentimentos, nunca foram, são apenas belas criaturas que nada tem a ver com o amor. Meus domingos são frios e solitários. Minhas canções não tem mais você nas entrelinhas. Meus pensamentos não são mais sobre casamentos e filhos e felicidade e amor. Meu amor é como um tumor e minha quimioterapia são em mesas de bares ou sozinho em meu quarto escuro tomando doses grandes de cerveja. Meu peito já não palpita fortemente a ponto de me esquentar totalmente por dentro, a unica coisa capaz de fazer isso agora são minhas xícaras quentes de café. Já não tenho mais aquele medo constante de perder alguém. Já não tenho mais aquele ciúmes apertado por ver que alguém olha para o meu alguém. Carência já não bate mais a minha porta. Não entrego sorrisos quase que sem querer ao ouvir um nome. Já não sinto falta de estar abraçado embaixo dos cobertores, assistindo um filme qualquer ou um seriado qualquer, ou até mesmo olhando no fundo dos teus olhos enquanto ouço tua voz dizendo que me ama. Não te vejo mais nos filmes de romance ou nos livros de romance. Já não espero ligações e a voz do outro lado da linha dizendo "Liguei apenas pra ouvir tua voz", assim como já não ligo de madrugada pra entregar um "Dorme bem". Não gasto mais dinheiro com chocolates, flores, presentes, ursinhos, só gasto com bebida. Bebidas e mais bebidas. E gasto meu tempo, gasto meu tempo escrevendo e bebendo e pensando. Sozinho. Talvez seja bom não gastar mais tempo com o amor. É bom. É muito bom, mas ainda me sinto a pior das criaturas. 

Não sei amar mesmo.

Que saudade sinto em saber amar. Que saudade sinto em me sentir uma pessoa um  pouco melhor. Que saudade sinto de quando meu peito não era tão frio, quando meus sentimentos eram mais sinceros, quando meus sorrisos eram mais verdadeiros. Saudade de quando existia o frio na barriga e o medo de ouvir o teu nome e entregar meu sentimento por volta de um sorriso. Que saudade. Saudade de quando o amor cegava as minhas vistas e deixava essa visão míope e cansada tampada pra toda a podridão do mundo e a imbecilidade das pessoas. Esqueci de dizer tampada pra toda a ruindade e crueldade que o ser humano consegue entregar. Saudade de escrever bem sobre o amor.

*

Odeio você. Odeio o jeito que sorri. Odeio o jeito que me abraça. Odeio o jeito que fala eu te amo. Odeio como você é capaz de fazer eu sentir vontade de aprender a amar de novo. Odeio o seu perfume. Odeio suas refeições e bebidas preferidas. Odeio o seu jeito. Odeio suas canções preferidas. Odeio suas fotos. Odeio sua letra. Odeio suas cartas. Odeio seus poemas e poesias e livros preferidos. Odeio a forma como você vê o mundo. Odeio pensar em você. Odeio escrever sobre você. Odeio lembrar que você existe. Odeio te ver feliz. Odeio. Odeio. Odeio. Odeio os presentes que você me deu. Odeio os presentes que um dia pensei te dar. Odeio a forma como você entrou na minha vida. Odeio a forma como você foi embora. Odeio a maneira que você me fez sorrir. Odeio a maneira que você me fez chorar. Odeio os seus amigos e lembrar que meus amigos também são teus amigos e que eles ainda lembram teu nome. Odeio estar escrevendo esses sentimentos e pensamentos fictícios sobre você. Odeio saber que nada disso aqui existe. Odeio saber que você não existe. Odeio me embebedar por tua causa. Odeio a amargura que você me entregou embrulhada num papel de presente. Odeio minhas doses de você. Odeio essa abstinência de você. Odeio tudo isso, mas odeio mais ainda não te odiar de verdade.

Espera. O que foi tudo isso que aqui escrevi? Será que as pessoas irão entender tudo o que aqui quis escrever?

Poema ou poesia? Bom ou ruim? Cadê meu amor? Cadê meu romance? Cadê a minha vida? Você ainda lembra meu nome? Quem se identificaria com esses parágrafos ruins de um escritor de quinta perdido em um quarto escuro? Bem, não importa, estou me embebedando e me livrando dessa abstinência do amor.

O amor é como um tumor e ele já me matou faz um bom tempo. Pelos velhos tempos.

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