sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Enquanto me afogo numa dose de melancolia

A falta que você me faz. A gente sempre sente falta. A gente sempre fica triste. A gente sempre ama errado e odeia errado. Muitas vezes a gente vive errado. A gente olha pro lado errado e logo nos pegamos indo atrás de pessoas erradas. A gente quer voltar pro passado, por mais que ele tenha sido obscuro demais, com medo de viver o futuro. A gente sente vontade de voltar a ser criança porque, naquela época, tudo era mais fácil, mais simples. Fazer amizades era mais fácil, gostar das pessoas era mais simples, confiar nos sorrisos era mais saboroso e proveitoso. Era tudo mais simples. A gente se arrepende e depois nos pegamos fazendo tudo aquilo de novo e chorando pelos mesmos motivos ou pelas mesmas pessoas. A gente enjoa, depois voltamos como se nada daquilo tivesse exatamente acontecido e depois enjoamos de tudo aquilo de novo, o ciclo se repete. Somos formados por tudo aquilo que enjoamos e odiamos e protestamos. A gente erra e erram com a gente. Somos perdoados e também perdoamos, mas nunca esquecemos e eles nunca esquecem. A gente se pega sentados a mesa de um bar, sozinhos, com uma bebida qualquer e já não quer mais saber do mundo. A gente entra em casa e nos aconchegamos em nossos travesseiros como se ali fosse o fim, como se nada mais existisse, como se o nosso mundo fosse apenas aquilo, aquele momento e nada mais. A gente se sente sozinho, mas no fim das contas nos pegamos se sentindo bem com a solidão. A gente assiste todos aqueles frustrantes e fúteis programas da TV até que adormeçamos. A gente ouve uma música de amor na rádio ou uma música mais estimulante de algum de nossos discos. A gente acorda no meio da madrugada pensando que em algumas horas toda aquela rotina exaustiva e maçante irá nos corroer novamente. A gente se entristece, nunca estamos verdadeiramente felizes, acredito que poucas pessoas saibam o que é realmente estar e ser feliz. Já escrevi uma vez e aqui repito, não sabemos ser felizes, assim como não sabemos amar, vivemos apenas breves momentos de alegria e ali no meio disso tudo se encontra um amor. A gente se irrita com os faróis, com os carros, com as buzinas, com o café frio, com a fumaça do cigarro jogada em nossas caras, com o ônibus lotado, com as crianças gritando e correndo pra lá e pra cá, com as pessoas mesquinhas e fúteis, com sentimentos e pensamentos frustrantes, com músicas ruins, com amores jogados no lixo, com romances que não deram certo, com a barriga roncando de fome, a gente sempre se frustra e depois voltamos pra casa, voltamos para o nosso mundo, para o nosso ambiente, para o nosso travesseiro. Voltamos para a solidão. A gente muda. A gente cresce. A gente envelhece, cansa, adoece e morre.

A falta que você me faz. A gente sempre sente falta de algo. Sempre estamos doentes pela falta de alguma coisa. Mas espera um bocado, porque estou generalizando tanto se nem todas as pessoas são iguais? Todos esses sentimentos e pensamentos que aqui escrevi são meus, só meus. Porque eu precisaria me preocupar com o mundo lá fora e com todas essas pessoas se no momento estou trancado no meu quarto escuro me degustando de um belo, quente e amargo café? Hoje em dia a vida é isso. Cada dia que se passa eu significo menos para as pessoas e cada dia que passa elas significam menos para mim. Li isso em algum lugar, é a verdade, os anos passam e a humanidade vai se afundando num mar de insignificâncias pelo qual todos fazemos parte. Eu gostaria muito de não fazer parte de nenhuma tribo, raça, ciclo, moda ou algo do gênero. Gostaria mais ainda de não fazer parte dessa humanidade que já não se importa com nada, quer dizer, apenas com suas ambições e os seus rabos cheios de dinheiro, gostaria apenas de fazer parte dessa minha humanidade e desse meu mundo que é composto por uma mesa onde eu possa escrever, uma xícara quente de café, uma música leve ecoando baixinho e meus pensamentos. E olha só em tudo o que me transformei. Olha eu aqui pensando novamente em mudanças e escrevendo sobre elas. As pessoas me fizeram mudar e os amores e os romances e as minhas insônias e minhas depressões e meus surtos suicidas. Tudo isso fez com que eu me tornasse essa pessoa infeliz que aqui se encontra escrevendo hoje.

Ah, um gole a mais de café, por favor...

A gente ama e muda. A gente conhece pessoas e muda. A gente vive uma rotina e muda. A gente envelhece e muda e vai ficando chato e vai ficando ranzinza e vai sendo cada vez mais infeliz. Espera, mais uma vez, estou apenas falando de mim, desculpe essa minha forma de generalizar as coisas, quando eu me sinto um saco de merda infeliz me lembro apenas de toda a humanidade e assim me sinto um saco de merda junto com eles porque somos todos assim - agora sim generalizei de uma vez, perdoe minha arrogância. Que fim esses parágrafos irão tomar? Não sei. Apenas estou deixando os meus dedos falarem um pouco mais por mim até que em meu peito eu sinta um grande alívio, aquele alivio que ecoa dentro de mim com que faça eu me sentir um pouco menos infeliz, um pouco menos vazio e um pouco menos triste. Acredito que já não estou mais me sentindo assim - HOJE - escrevi bastante, tomei bastante café e pensei bastante. Lembrei dos meus amores, dos meus romances, das minhas frustrações, das coisas que escrevo, da humanidade. Lembrei de todas as coisas que me deixam triste e também lembrei de todas as coisas que me deixam feliz. Lembrei também de todas as coisas que amo e lembrei também de todas as coisas que odeio. A gente ama. A gente muda. A gente envelhece. A gente morre. Até o dia da minha morte ou de meu suicídio me lembrarei a falta que ela me faz, minha querida companheira de todas as noites: A melancolia. Hey, minha querida amante, não me esqueci de você...solidão.

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