terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Deixa o nosso amor para outros carnavais

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Te deixei entre confetes.
Te perdi entre os blocos.
E te desejei entre os mais clichês.
Clichês!
Esses clichês que a gente insiste em vivenciar.
Clichês.
Muitos clichês através de confetes coloridos mais tristes que minhas lágrimas.
E eu te encontrei pelas ruas. O famoso "por ai". E foi por todos esses meios que eu te deixei.
Te larguei por ai. E te deixo por ai. Porque aqui, aqui dentro do peito, você ficou.
E desde que veio morar aqui dentro, minha vida se tornou um inferno.
Porque eu sei que, dificilmente, tu irás embora daqui.
Mas confesso que tens sido meu melhor inferno, pelo menos escrevo minhas cartas e crio alguma coisa relacionada com esse sentimento.
O clichê.
Clichê do acaso por acaso que a vida colocou por descaso de apenas um olhar.
E o teu olhar penetra em mim como purpurinas em nossas roupas.
Carnavais são tão chatos.
Tão monótonos.
Tão clichês!
Clichês, mais uma vez.
E outra vez.
Mais uma vez mais.
Eu estou bebendo, mais uma vez, e deixando as minhas mãos falarem por mim coisas que eu gostaria de te dizer.
E eu gostaria de te dizer que eu acho carnavais chatos e clichês e monótonos demais, mas a gente tem a oportunidade de se encontrar num boteco ás seis da manhã para tomar algumas cervejas e jogar conversas fora.
E o nosso descaso é que a gente nunca faz isso.
E eu gostaria de fazer alguma coisa semelhante ao fato de sentar num boteco, abrir uma cerveja e te dizer como foi o meu dia, logo depois de ouvir como foi o teu dia. E saber sobre todas as coisas ruins que têm acontecido em nossas vidas, claro.
A vida não é feita de confetes e o lado obscuro de todo universo cai por nós dia após dia.
A gente pode se encontrar. Tu me tens. Me tens até demais. E a gente tem um copo americano e uma garrafa imensa de cerveja para desperdiçar em nossos estômagos ás seis da manhã.
Mas o meu telefone não toca.
E tu não me escreve.
E também não me chama ás cinco da manhã em minha janela para esquecermos de tudo á nossa volta e fugir para qualquer bar de esquina.
E eu perderia o meu pavor de telefones para apenas escutar a tua voz me pedindo para fugir.

Clichê. E eu perdi as contas de quantos clichês citei nas memórias acima.

- Tu não terminou a última carta, meu bem?
- Me faltou uma palavra.
- Apenas uma?
- E qual é a palavra?
- Não sei, querida. Não consigo encontra-la.

Eu sinto falta dos clichês.
Eu sinto falta dos romances.
Ás vezes é bom viver clichês.
E melhor ainda viver um romance.
Eu não vivo clichês românticos.
Perdi meu romantismo em algum bloco de carnaval.
Deixei em algum boteco ou restaurante.
Não me lembro bem. Esqueci como se faz.
Alguém pode me ajudar com meus clichês e fazer meu estômago sacolejar com tanta borboleta nele?
Clichês? O que são clichês?
Romantismo "clichêtismo"? Que porra de palavra é essa que eu inventei?
Romantico Clichêtista?
Não entendi essa merda. Alguém consegue me entender?
Sentar na varanda. Observar as árvores. Entregar um beijo. Tomar um beijo.
Receber um beijo na varanda olhando as árvores.
Sentir o vento. Olhar todas aquelas folhas caindo das árvores.
Olhar os pássaros. Sorrir com os pássaros. Receber outro beijo. Entregar um sorriso.
Sair da sacada.
Voltar para a cama. Sorrir para o teu romance. Chamar o teu romance. Deitar de conchinha com o teu romance ás nove da manhã de um domingo ensolarado e pensar que o mundo não tem mais problemas.
Oh, caralho, isso é tão clichê.
É clichê demais pensar que a vida é essa maravilha só porque estas amando alguém ou que alguém simplesmente é capaz de te amar tanto a ponto de esquecer todas as tuas falhas. Isso faz com que os nossos mundos fiquem perfeitos.
Dizer eu te amo. E fazer promessas.
Promessas como por exemplo "Eu vou te amar para todo sempre".
Não. Você não vai. Mas entendemos o clichê romântico.
Almoçar juntos com nossos pais e ouvir eles dizendo que somos o casal mais lindo e perfeito do mundo e que não esperam a hora de nos casarmos para viver uma vida de clichê romanticista juntos.
Muito clichê.
Terminar o almoço. Lavar as louças. E sorrir. E fazer piadas.
E voltar para o quarto.
E deitar na cama. E sorrir. Sorrir mais uma vez.
E deitar de conchinha. Escolher um filme.
E discutir pelas escolhas que nós fazemos de filmes diferentes de nossos gostos diferentes.
Não sorrir tanto assim.
E essa pequena briga vira uma discussão.
E a gente não sorri mais. E a gente chora. E esperneia. E discute. Discute. Discute.
Qual era o motivo mesmo do princípio da discussão?
Ah, isso mesmo, sua mãe não gosta de mim. Esse era o motivo inicial da discussão.
E ela vai embora, emputecida, da minha casa.
Eu deixo. Não sou ninguém para obriga-la a ficar.
Pego uma cerveja. Abro a cerveja.
Subo para o meu quarto.
Abro a porta da sacada e sento na sacada.
Sozinho. Chorando. Com uma cerveja nas mãos.
Esqueci qual era mesmo o motivo inicial de toda aquela discussão.
Ah, isso mesmo, o meu cachorro mijou no tapete dela e ela acha que a culpa é minha.

Eu não vou ligar. Eu tenho pavor de telefones.
Ela não vai me ligar. Ela não engole o orgulho por mim.
E a gente finge que tudo está bem, meu bem.
E a gente finge que a gente não sente nada.
E a gente finge que toda essa porcaria não soa tão clichê.

Qual era mesmo a palavra?
Eu esqueci a palavra de todos os meu versos.
Existe uma palavra que conclui todos os meus versos.
Ou era uma frase?
Qual era a frase mesmo?

Só sei que meu coração está deprimido o suficiente para não querer se envolver num clichê romântico. E minha depressão me impede de sorrir verdadeiramente. E isso me machuca, porque eu tento. Eu tento muito. E eu quero viver um clichê. Eu poderia viver um clichê. Eu sei que poderia, mas eu não encontro mais forças por essas ruas e avenidas. Na verdade, não encontro forças nem em cima de minha própria cama. E essa doença que prega peças e me deixa em peças não me permite viver como eu gostaria.
Seria muito bom ter alguém para me livrar de minhas tristezas, não seria?
AH, MEU CARALHO, quase vomitei com tanto clichê em uma só frase.

E veja bem, deixa nosso amor para outros carnavais, não sou a melhor pessoa para amar.
Nem sei ser amado.
É um sentimento grandioso demais para mim e eu me perco em sorrisos.
A vida têm sido um inferno desde que eu vi o teu.
Mas é o meu melhor inferno.

- Meu bem, o que você não sabe dar?
- Como assim, querida?
- Você me disse esses dias que não sabe dar algo, qual era a palavra?
- Clichês?
- Não. Essa não era a palavra, mas poderia ser a palavra que faltou em teus últimos versos.
- Não lembro, querida, eu te falo tantas e tantas coisas.
- O que você não sabe dar, meu bem?
- Amor.
- ISSO, ESSA ERA A PALAVRA, CACETE!!!

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