domingo, 8 de fevereiro de 2015

Domingo, o dia mais desgraçado entre todos os dias da semana

Eis que me encontro aqui. Percebo que somos instantes. Que sou um instante do instante de mim mesmo. Somos todos instantes. Num momento nos amamos, em outro instante nos odiamos. Abro as portas do meu caminho e não encontro mais nada. Abro as janelas de minha vida e vejo outras milhares fechadas. As lágrimas que escorreram há anos atrás pelo meu rosto já não quero que sejam lembradas pelos mesmos olhos constantemente tristes que aqui vos enxergam essas palavras. A mesma boca que proferiu palavras de amor e ódio, hoje se permanece calada por várias situações que hoje fazem com que eu sinta amor e ódio. Sou um instante constante de mim mesmo ou de você. Não sou eu quem decido. Sou ternura e compaixão. Desgraça e confusão. Sou malandro e bom garoto. Bêbado e louco. Sou um amor e um ódio que não sei bem explicar se é composto de exatos sentimentos burros de amor ou ignorantes compreensões de ódio. Sou a repetição e o instante absolutamente novo. Sou muitas vezes burro e outras muitas vezes mais inteligente. Pensativo de mente cheia e coração muito mais que vazio. Percebo que estou escrevendo nesse domingo em que o sol veio visitar a todos nós. Poderia estar em um belo e suculento almoço de família ou poderia estar dentro de um bar com meus amigos bebendo algumas boas cervejas e contando como foi a minha semana. Poderia estar na casa de minha amada não fazendo absolutamente nada, deitado em sua cama ouvindo sua respiração cansada enquanto ela está em braços meus. Poderia estar suspirando ao sentir teu perfume correndo por entre minhas entranhas e dizer baixinho em seu ouvido o quanto a amo. Poderia estar em algum parque ou praça. Alguma parte do mundo em que eu encontre algum tipo de calmaria. Poderia estar passeando pelas calçadas de São Paulo e me sentindo bem com o meu lar tão odioso. Aquele lar em que vejo os prédios, as cafeterias, os bares, as pessoas, os mendigos, as bancas, os carros, os faróis, os metrôs. Poderia estar amando São Paulo sem odiá-la. Poderia estar pensando em coisas boas sobre a vida e esquecer, por alguns momentos, todas as que me fazem ficar com a cabeça cheia de merda. Poderia também, simplesmente, estar embebedando-me diante de meus quadros e retratos que um dia me trouxeram tanta tristeza e lembrar de tudo, mas tudo mesmo, pelo que passei e os dias e sentimentos que não voltaram nunca mais. E o que estou fazendo então? Simplesmente em frente a um computador, deixando cada palavra fluir de uma mente que se encontra cansada e cheia. Poderia ter acordado e feito qualquer outra coisa, mas ainda sim, meio sonolento, sentei de frente da tela, estralei os dedos, olhei para cada letrinha miúda no teclado e liberei a mente de um ser completamente biruta que não escreve há dias e dias. Assim libero toda a minha loucura. Isso é a coisa mais sensata a se fazer num dia como esse.

Meus olhos estão inchados. A barriga está vazia. Minha mente ainda se encontra sonolenta. A música clássica da mais alta qualidade está passando friamente pelos meus ouvidos. Tive um dos melhores finais de semana que alguém poderia desejar. Amei. Sorri. Abracei. Bebi. Isso, sim, enchi muito a cara. Festejei. Mas mesmo assim o domingo vem no final para me mostrar qual é o dia mais desgraçado da semana, mesmo sorrindo, mesmo amando, mesmo desejando, mesmo bebendo, ele faz questão de mostrar o que é ser algo desgraçado. Encontro-me perdido dentro de meu próprio lar. Teorizando sentimentos e pensamentos que nem sei bem quais são. Abro a mente. Deixo os dedos fluírem tudo que querem. Mesmo assim não encontro nenhuma esperança para mim. Droga, mas oh infernos, porque sempre encontro-me perdido desse jeito. Será deveria voltar a dormir até segunda-feira ou deveria encontrar algum sentido da vida em algum livro meu? Será que eu deveria ligar para minha amada para ouvi-la dizer que tudo ficará bem como ela sempre faz? Perco a esperança ao saber que a esperança não está em mim, mas sim em um outro alguém ou outra coisa. Devo confessar que estou teorizando que sempre, sempre mesmo, as coisas que irão me salvar se resumem nas palavras e no amor. A morte e o ódio estão descansando em minha vida dessa vez. Sinto-me um tanto quanto alegre ao pensar assim. Deixa esses dois extremos descansarem, enquanto vivo a minha vida de uma forma deliberadamente certa. Deixa eu amar, deixa eu sorrir, deixa eu abraçar, deixa eu me embebedar, deixa eu festejar e escrever nos domingos que encontro-me sem fazer absolutamente nada, onde poderia estar fazendo alguma outra coisa qualquer. Escrever e me embebedar é sempre o caminho mais bonito que posso enxergar.

Sinto que minhas palavras estão começando a ficar confusas, clichês ou sem sentindo. Ou tudo isso junto. Ainda tenho em mente que sou um escritor de quinta categoria que sabe muito bem o que quer. Louco. Gênio pensante. Bêbado. Estranho. Tudo isso e mais um pouco. Sou tanta coisa, mas ao mesmo tempo não sou nada. Sou tudo. Sou o meu tudo. Sou o seu nada. O nosso nada. Sou um poeta triste sendo salvo mais uma vez. Sou um escritor escrevendo mais algumas palavras para que um dia não seja completamente esquecido e as pessoas falem "Poxa, ele fez algo verdadeiramente bom" ou quase. Espero que um dia as pessoas sigam algum exemplo meu e mandem para um outro alguém algumas de minhas palavras de amor e, quando eu me for, que elas amem e sejam amadas pelos exemplos bonitos que dei em cada palavra sincera que escrevi. De certa forma eu sei amar. De certa forma eu sei sofrer. De certa forma eu sei escrever. Todos temos um dom e há tempos descobri o meu. O talento em amar para escrever e escrever para amar. Depois eu sofro. Depois eu me embebedo. Depois eu morro. Enquanto isso aproveito essa brisa cansativa do vento de domingo, observo o sol batendo pela fresta de minha janela e penso na unica esperança desse domingo que tenho. E por saber amar verdadeiramente certo e sincero, encontro minha esperança de ser algo ou alguém melhor em você, minha amada. Que meus lábios toquem os seus mesmo estando longe. Que meus braços te confortem quando você não souber qual caminho seguir. Que você não me esqueça se eu sumir por dias e dias, muito menos me esqueça quando eu morrer. Que você não sinta ódio ou raiva de mim, e sim ternura e amor. Que sorria quando lembrar de todas as coisas boas que passamos e passaremos, mas se for para nunca mais passar, se algo triste me acontecer, que você saiba que a minha esperança de não ter um domingo ou uma vida desgraçada está em você.

- Bebe e ama comigo? - perguntei.
- Que essa história nada clichê seja eterna e boa enquanto dure.

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