terça-feira, 13 de julho de 2021

...homem com dom de escrever poesias em cima de histórias tristes - e ele vai morrer contando suas dores!


E eu acordei de um sonho lindo,
me vi num pesadelo
onde nada fazia sentido
em cima de tudo que fazia sentido.
Aqui dentro e
lá fora.
Eu ouvi tiros.
Eu vi um lado batendo palmas para a mulher
que apanhou do marido
e eu vi o outro lado aplaudindo o caos.
Todo mundo buscando por paz,
todo mundo querendo o sossego,
todos eles pedindo amor.
Eu enxerguei eles xingando as putas.
Batendo nos bêbados.
Chutando os pretos.
Colhendo restos de pessoas que não tinham
mais nem os restos
e a vida da dessas, 
muitas dessas.
E todos continuam implorando por amor,
todos eles querem amar
odiando todo mundo que enxergam pela frente.
A humanidade é isso.
Ela foi feita para isso.
Para acreditar que ama todo mundo,
quando na verdade,
eles não amam nem a si mesmo.
E eu jurei que não iria mais escrever sobre amores.
Mas essa merda me entorpece.
E eu nem sei falar sobre amor,
nem quero falar sobre amor.
As pessoas todas estão se matando pela falta dele,
enquanto elas gritam em desespero, 
mas elas não sabem amar nem a si mesmas. 
É estranho.
Eu escrevo e escrevo e escrevo e
escrevo e
escrevo...

tsc tsc tsc tsc....

- Tu vai mesmo escrever sobre quem te cuspiu na cara, querido?
- Já escrevi sobre coisas piores, meu bem.
- Ela comeu teu coração e te cuspiu pelo cu e tu ainda se importa.
- Não, não me importo.
- Mas tu vai escrever sobre isso, querido.
- Não me importo.
- Você está bem, querido?
- Muito bem, meu bem.
- Estás pensativo demais hoje, não estou gostando muito.
- Não me importo de pensar muito, querida.
- Acredito que se eu disser que vou te comprar cervejas, tu vais dizer que não se importa também. Credo, meu bem.
- Não estou tão amargo assim.
- Querido, tu viu o que deu no noticiário. Aquele cara que bateu na...

tsc tsc tsc tsc...

Acho que eu não me importei.
Não com ela.
Não com o assunto.
Não com o todo.
Mas me desliguei de tudo.
Do todo.
E me entendi por um breve momento.
Chorei em silêncio.
Compreendi a poesia que estava passando por mim.
E ela me cuspiu pelo cu.
E ela mastigou tudo que eu ousei sentir de novo por alguém.
E eu não me importo.
São nesses momentos que saem minhas melhores poesias,
e eu sei que eu vou esquecer.
A gente sempre esquece.
A gente sempre teima.
A gente sempre padece.
E cai por terra.
E pede para os céus.
E ergue a cabeça.
Como se nunca mais quisesse amar de novo.
E a gente ouve todos os sussurros do mundo passando
pelos cantos dos nossos ouvidos.
E entende que a vida é uma completa combinação
de todas as coisas
pelas quais
a gente sempre fugiu.
E continua fugindo.
E é surreal o tanto de problema pífio que a gente carrega
em nossas costas.
Sendo que,
assim por dizer,
a vida é uma simples carroça antiga
e bem emoldurada que a gente
ajeita de forma bem simples
e prossegue com a nossa jornada. 

Caminho único.
Viajante de uma estrada só,
estrada que nos leva para um único caminho
a solidão.
E assim, é a vida,
por muitas vezes chata,
constantemente irritante,
por vezes desesperadora,
em vários momentos linda,
mas que aborrece
e a gente sempre procura meios
para nos tornarmos menos burros,
quando na verdade,
a sabedoria não é um determinado tempo de vida que 
tu viveu,
e sim,
o tempo de solidão que tu mesmo
se deixou dentro de você.
A tristeza é o que nos faz crescer.
Os desesperos.
A falta de esperança.
A raiva constante.
Aquela raiva que não passa.
E a falta de amor. Muito amor.
Em um mundo que se entrega tão pouco disso.
e eu me sinto incomodado todas as vezes que eu
preciso beber para esquecer
e tragar para matar algo em meu coração.
E quantas, e quantas, e quantas vezes
eu fiz algo dessa escolha para esquecer alguém.
Talvez,
esse seja um momento desses.
Mesmo que eu não queira esquecer,
queira apenas lembrar quando eu quiser,
para saber que
ali,
naquele momento,
naquele pequeno e breve momento
irritante e chato e lindo de 
minha vida,
eu aprendi algo,
desesperadoramente, 
triste e 
verdadeiro
que me fez crescer um pouco mais.
E um pouco mais.
E outra vez.
E outra vez mais.

tsc tsc tsc tsc tsc...

- ...o cara é um covarde, querido, não vale o pão que come.
- oh, tu e esses ditados - abri uma cerveja.
- Querido, precisava te perguntar uma coisa.
- Diga, meu bem.
- Onde é que está esse caralho de amor que você tanto procura em todas as suas cartas e livros e textos e afins?
- Não sei te responder, meu bem.
- Tu sabes que ele não existe, não é, meu bem.

...isso não existe.

- Quer um trago, querido?
- Acho que não estou muito bem, meu bem.
- Logo passa.
- Eu sei. 
- A gente sempre sabe.
- E continua mentindo que não sente nada.

...tsc tsc tsc tsc tsc.

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